domingo, setembro 24, 2006

Resumo da ópera

Primeiro quero explicar, sobretudo para quem mal me conhece o que eu
faço e sobretudo o que estou fazendo neste ano, e explicar as razões
pelas quais estou super otimista
E tento ser didático e sintético... É redundante

Na real... estes são os PROLEGÔMENOS - A ABERTURA da OPERA

1- Tudo começou com um papo meu com o Gil em março 2003, quando eu
acertei com ele que faríamos um trabalho de cultura digital no
MinC. Este papo se deu no evento Mídia Tática no SESC Paulista.
O Mídia Tática reuniu a fina flor dos ativistas digitais da sociedade
civil. O Gil, trouxe o John Perry Barlow (Barlow veio ao Brasil
convidado pelo MinC - articulação do Hermano Viana) e, com isso, se
posicionou no debate da Cultura Digital. O debate Barbrook x Barlow
foi histórico. Barbrook (que é comunista) detonou Barlow (que já foi
do partido Republicano). Este foi o dia em que falei com o Gil sobre
Cultura Digital pela primeira vez. O cara já estava antenado.

No papo com o Gil, ele me disse que não havia grana... Não estava no
orçamento. Gil então me pediu 1 mês para conseguir a grana... que ia
dar um jeito de "encaixar" este trabalho num projeto que se chamava
BAC (Bases de apoio à Cultura).
{{Conheço Gil desde os anos 60, quando morávamos em Londres... Somos
amigos. Nos conhecemos bem... o papo foi curto mas fechamos um
entendimento tácito.}}

2- Meia hora depois de nossa conversa, e, entusiasmado, comecei a
contar minhas ideias para o Daniel meu filho, que me disse : "vc já
viu este site? (ecologia digital, do Murilo) conhece este cara? ele
fala coisas muito parecidas com estas que vc está falando". O Daniel
conhecia o Murilo pela Internet pois os dois pertencem há muitos anos
à comunidade do Santo Daime. Nunca tinham se encontrado pessoalmente.

3- Entrei em contato com o Murilo. Na época ele trabalhava no
Ministério de Ciência e Tecnologia. Nos identificamos imediatamente.
Falávamos a mesma língua. O Murilo me disse então que se estávamos
realmente partindo para ter Cultura Digital no MinC, seria
imprescindível que o MinC participasse das articulações do governo em
torno das questões de inclusão digital e de software livre que já
corriam por vários setores do governo sem que o MinC estivesse
representado. Particularmente havia uma reunião de Inclusão Digital no
Min do Planejamento junto com a sociedade civil em Brasília dali uns
dias e não tinha ninguém do MinC participando das reuniões
preparatórias.

4- Liguei para o MinC pedindo que mandassem alguém. Não mandaram. 3
dias depois, insistí. Aí me disseram: "vai vc" e me mandaram passagem
e diária como colaborador eventual. Fiquei na casa do Murilo. O Gil
tinha sido convidado a debater numa mesa com Nelson Preto que é o
diretor da Fac. de Educação da Universidade Federal da Bahia.
Conversei com o Gil uns 10 minutos e ele me nomeou seu representante
neste evento. E fui parar no palco, representando o Gil e o MinC,
falando de inclusão Digital. Na época não podia ainda falar das BACs
pq seriam lançadas pelo Lula e tals...

5- Meu painel era no segundo dia. Assisti ao primeiro dia e conheci
todo mundo do governo envolvido com o mundo digital e muita gente dos
movimentos, da sociedade civil. E percebi logo que tinha uma grande
caretice permeando o evento. Minha fala foi conceitual. Sobre a visão
de que a revolução das tecnologias digitais só podia ser compreendida
pelo prisma cultural. E, como o lado careta me incomodava, soltei a
frase "sem tesão não há inclusão". Bom, a frase correu solta, virou "a
frase" do evento e começou minha fama de porralouca e a partir daí
virei o cara da Cultura Digital do MinC.

6- O debate com o Nelson, que virou um grande amigo e aliado, foi um
sucesso. Depois do debate fui procurado por várias pessoas da
Sociedade Civil e do governo. Percebi imediatamente que ambos, governo
e sociedade civil, queriam, precisavam do MinC e do Gil como um grande
Guarda-chuva conceitual que cobrisse, desse coerência para uma
política de Cultura Digital. Nesse dia conheci o ff, o Dalton o
Leandro (que não tinha nada a ver com o movimento digital)

7- Do governo conheci Sergio Amadeu da Casa Civil (que virou brother),
Antonio Albuquerque do min das comunicações, Rogério Santana do Min do
planejamento e Rodrigo Assunção vice do Rogério no planejamento. Todos
estes caras, as figuras chave do mundo digital do governo e do e-gov
trabalhavam sob ministros que nada sabiam sobre o assunto e que, se
tivessem que falar sobre o mundo digital teriam que ler discursos
feitos por seus assessores mas seriam incapazes de entrar num debate
sobre a questão. O Gil por outro lado já estava super conectado com
estas questões todas alimentado pelo Hermano Viana e já tinha
participado em sp do Mídia Tática e tals. (No Mídia Tática de governo
só tinha o Gil).

8- Intuitivamente percebi que havia um gigantesco espaço a ser
preenchido pelo Gil na liderança do movimento digital dentro do
governo. Que as pessoas que realmente mexiam com o digital no governo
não tinham cobertura conceitual de seus ministros e que portanto
queriam o Gil para dar forća aos seus argumentos. Neste sentido, o
espaço que percebi e instantaneamente resolvi ocupar foi de "nomear o
Gil Ministro de Cultura Digital" no governo brasileiro. Um ato meu.
E, ato contíguo, nomeei a mim mesmo e assumi o cargo de articulador
das politicas digitais do governo brasileiro.

9- Comecei a articular pela Internet. E fui representar o Gil no FISLI
de Porto Alegre. Lá participei da abertura e de uma mesa com Marcelo
Branco que tinha o objetivo ampliar o debate dos hackers para a
questão cultural. O enfoque cultural. Este painel tinha sido inventado
pelo Marcelo que era um dos fundadores do FISLI e via a necessidade de
ampliar o escopo das discussões do pesssoal do SL. Ali entendi muita
coisa. E dessa mesa saiu a frase que muitos atribuem ao Gil, mas que
foi minha: "vamos tropicalizar o mundo digital". Fiz um discurso bem
porraloca... cheio de metáforas intuitivas e, no fim, uma garotada me
esperava no pé do palco. Fomos conversar: A arca... criconet - Ale Asa
. O Ale, nervoso... ansioso me ouvia e dava voltas, de pé em torno de
sí mesmo. Ví estampado no rosto dele todo o potencial de uma energia
que hoje sabemos quanto é grande, forte e generosa. Neste dia conhecí
o TC e o Banto. Me deram um CDrom. É para o Gil, disseram. Com Ale e
Asa, decidimos que abriríamos um wiki (na época era uma grande
novidade) para podermos pensar juntos, colaborativamente o que e como
fazer Cultura Digital com o governo.

10- Assim nasceu "a lista" um grupo que foi se reunindo atrás de um
sonho comum. De um sonho de mudar o mundo... Este grupo chegou a ter
umas 80 pessoas. Algumas ficavam algum tempo e saiam.... Mas muitos
ficaram e aqui ainda estamos. Nos reuníamos 2, 3 vezes por mês na
minha casa para conversarmos, nos conhecermos, apresentar novas
pessoas. E tomávamos sopas feitas pela Elza e por mim... As sopas se
confundem com aquilo que comecei a chamar de DNA do projeto. Uma
energia fudida...Inesquecivel.

11- Aí tinha que virar coisa real. Nesta altura, morreu o projeto BAC.
E sumiu o Roberto Pinho, que depois descobriríamos estava metido no
mensalão. E olha... ninguém no MinC sabia. O Gil não sabia...
ninguém... (por isso digo... não creiam na mídia... ela jamais diria
que o Gil não sabia) . Foi a Elaine que descobriu... (e me pediu que
falasse para o Gil - olha só - pq era amigo dele e tals) Poucos sabem
disso...

12- Aí resolvi mudar para Brasília. A primeira coisa que fiz foi
procurar uma base fora do ministério. Sentia que precisava de uma ONG
onde pudesse estalar a base não governamental do DNA da sopa. Foi
assim que conheci o uirá... por tel... de forma muito louca e
indireta. Acabei que fiquei hospedado na casa dele ele nem barba tinha
(isso não quer dizer que hoje tem hehe). A coisa da ONG não eu certo,
aliás deu errado mesmo, mas arrumei uma vaga de estagiário para o uirá
que foi o primeiro contratado da cultura digital.Levava o uirá nas
reuniões de gente grande do governo... o muleque pirou... e aí está...

13- Alugamos um ap. eu e o vitor. Na casa de um cara nada a ver...mas
que pouco ia lá... Foi o uirá que achou o ap. Dormiamos no mesmo
quarto. eu numa cama e o vitor num colchão. Foi a única vez na vida do
vitor que ele acordou cedo. Não tinha alternativa. Eu acordava às 4:30
/ 5:00 horas e às 7, já nervoso acordava ele... O Vitor, conheci no
festival de cinema em sp. Acabou o filme e queria conversar sobre o
filme e ele estava na poltrona do lado... Desta conversa nasceu nossa
amizade. Encontrei com ele noutro filme, e ele passou a frequentar
minha casa e trouxe uns amigos da escola dele. Tb não tinha barba...
Um dia me chamou para fazer uma palestra no SENAI a escola dele. O
tema que sugerí e ele conseguiu emplacar foi "o fim da Indústria"
imaginem.. isso no SENAI (Serviço acional da Indústria) 200 alunos +
professores... Foi um barato. Depois disso sobrou um grupinho que ia
em casa conversar de filosofia e coisas mais. Aprenderam a fumar lá...
e otras cossitas mais.... (sem malícia por favor.... hehe). Isso tudo
foi antes da minha conversa com o Gil.
Um dia, depois de algumas sopas... o vitor chegou em casa e disse:
pedi demissão (ele era um dos poucos que tinham trabalho fixo, com
carteira assinada). Veio trabalhar em casa com o salario desemprego e
mudou pra brasilia já sem salario nenhum...
E foram pintando as pesssoas... Cris, Leo, Novaes, Pixel, Ruiz, Pádua,
Chico, e to esquecendo gente... dessa primeira leva....

14- Aos poucos consegui empregar o lele e o vitor e o uirá como
terceirizados no MinC.
E o Marcos... que saiu... Tinhamos ujma salinha pequena para mim, mas
com sofá e plantas e umas mesas para o pessoal... Corria de sala em
sala... consegui acesso a todas as pessoas chave no MinC. A secretaria
de programas e projetos (que era do Pinho e das BACs) ficou acefala
durante meses... E eu só indo a eventos e escrevendo nossos textos.
Daí o Célio entrou. O primeiro acordo que fez no MinC, foi conosco. 2
dias depois de sua chegada. Inventou o tal do kit e eu trouxe o PNUD e
deu no nosso primeiro contrato.

15- Como tudo na vida foi bom e ruim... Não quero repassar tudo.. mas
assim que entrou grana na parada as coisa foram mudando.

16- O segundo contrato foi um desastre. Já no meio da crise de
desentendimento geral. Alí na minha opinião tinha que quebrar tudo,
como de fato quebrou.

17 Nesse interim, e no meio da cfrise...começou a rolar o interesse
internacional pelo projeto
a) sai a matéria na Wired: Brazil the open source nation - com o Gil
de estrela da coisa...
b) nasce daí uma agenda internacional porque o mundo começa a pirar
com nossas posições. To falando das posições do Brasil... nos fóruns
internacionais onde o Brasil vira lider das posições mais avançadas
sobre propriedade intelectual etc.
c) A Cultura Digital começa a se destacar como o primeiro projeto
prático onde se aplica em escala as idéias da Era Digital...
Italia, Espanha, Inglaterra...
Lançamento do Creative Commons no Brasil... No FISLI 2004
Fórum Cultural Mundial com Castells, Lessig, Barlow!!! histórico!!
Dezenas de convites para que eu palestrasse... em diversos fóruns cada
um mais interessante que o outro...sempre com um mgrande sucesso,
surpreendendo a todos e abrindo os escopos de novas adesões e novas
parcerias.
Tunis... União Européia... Digital Business Ecosystem...
Agora Japão...
Gil na reunião da WIPO (World International Intellectual Property Organization)
OSERVATÖRIO INTERNACIONAL DE CULTURA DIGITAL DO BRASIL:
Oportunidades únicas de termos visibilidade... credibilidade....
suporte político e material... autonomia... independência... (até para
negociar com o próximo governo seja lá quem for).
Este foi meu grande trabalho no ano de 2005/6. No meio da crise...
abria-se uma agenda positiva. Invisível para muitos... Inacreditada
por muitos...

18- Sinto que muitos, talvez praticamente todos nós temos saudades da
liberdade que tínhamos na fase amadorística do projeto ((amador:
aquele que ama)). Agora na fase profissional ((profissional - aquele
que só trabalha se for pago)) muitos - e diria quase todos nós nos
rendemos... à esquizofrenia desta dualidade terráquea. Queremos de
volta nossa liberdade das sopas e sabemos que deveríamos ganhar mais.

19- Some se a isso:
a) os muitos erros que cometemos - justificados ou não -
b) as incompreensões do célio e sppc, causadas por nossos erros ou os deles
c) as crises pessoais de cada um consigo mesmo - de cada um no
contexto do grupo que, como todo grupo tende a se nivelar por baixo e
virar corporativo... as pessoas que entraram agora e que não sabem de
nada...
d) as incompreensões bilaterais entre o grupo e o IPTI
d) a total incerteza do ano de 2007...

Chegamos ao quadro da crise de 2006.
Mas crises são geram perigo e medos de um lado e oportunidades e
esperanças de outro.
Pessoalmente prezo as crises... gosto delas.... Não que não me afetem
negativamente mas sei que sem elas não há avanços... Fomos fundo nas
crises... eu joguei muita lenha nessa crise... Sofri, como todos
(quase todos) com ela...

19- Mas para minha semi conscientemente esperada surpresa - vejo a
Fênix renascer das cinzas...!!!
a) um entendimento consistente e bilateral entre a turma "filosófica"
e o Hacklab...
b) a compreensão geral de que temos o que publicar, que temos que publicá-lo
c)- compreensão de como fazer isso ( plataforma - site cultura digital
- observatório e um livro 0.0 com DVD no mínimo...

No fundo>>>> como tinha que ser, é uma coisa simples>>>

{{{antes que xiem... SEI QUE DÁ MUITO TRABALHO}}}}}}}}}}}}}} MUITO}}}}
SEI que tem muita gente EXAUSTA}}}}}}}
Também pudera... botamos nisso TODAS as nossas ENERGIAS>>>> (Nem
todos, a bem da verdade)

MAS>>>>>>>
Sinto de volta o tesão >>>> BENDITA INCERTEZA!!!

20- ÚLTIMO ATO DA ABERTURA DA ÓPERA...
{{Acordes dramáticos e dissonantes ... se misturam com harmoniosas
melodias misteriosas}}
Temos 3 meses para acabarmos esta abertura e iniciarmos a ópera!!

ESTOU OTIMISTA NO JAPÃO...

SEI QUE ESTAMOS ACRESCENTANDO UM GRÃO NA HISTÓRIA DESTA ENCRUZILHADA
DO TERCEIRO MILÊNIO...
E QUE A ÓPERA 2007 SERÁ ESCRITA


{{{{{{{{{{{{{{{{{ POR NÓS}}}}}}}}}}}}}}}}

BEIJOS MAIÚSCULOS,
obrigado a todos... [[os que tão dentro e os que tão fora]]
2007 é tudo novo....
....de novo